16 de setembro de 2011 às 16:49 2 Comentários
o texto ilustra o pensamento do Prof. Ladislaw Dowbor sobre direitos autorais, abordado no Seminário Jovens Urbanos na Universidade Cruzeiro do Sul.
Leoni é um dos artistas mais ativos na rede. Músico, foi do Kib Abelha, Heróis da Resistência e há algum tempo faz carreira solo. Foi um dos primeiros a liberar todas as suas músicas para baixar na Internet e agora está lançando um formato de compra de shows que elimina o intermediário.
Por esse sistema, ele acerta com a casa de show o preço para poder locar o espaço e vende os ingressos diretamente pelo sistema de crowdfunding. O preço da entrada acaba ficando bem mais barato para o público. Se der certo, isso mudará completamente o mercado da música, onde as gravadoras já perderam muito espaço. Leia a entrevista que fiz com ele por email.
Leoni, você está lançando um modelo novo de contratação de shows a partir do crowdfunding. Até onde sei é algo inédito no Brasil. Pode explicar para os leitores o significado dessa ideia e o quanto ela pode mudar o mercado musical se vier a dar certo?
Não sei se o modelo é inédito no Brasil, mas é bastante novo, com certeza. A minha esperança é que o crowdfunding chegue a quase substituir a figura do contratante de shows. Pelo menos para as cidades grandes. Normalmente os artistas ficam esperando que alguém tenha interesse em bancar seu show para conseguir chegar numa cidade ou região. E os ficam fãs perguntando: por que você não vem para a minha cidade? É nessa hora que o novo modelo vem resolver o nó: tenho público na região, mas não conheço um contratante na área – ou o contratante local não tem interesse no meu show por achar que não vou gerar receita. O crowdfunding permite que o público seja o contratante. E o artista não tem que correr riscos financeiros. Dessa forma, o bordão da música do Milton Nascimento ganha uma versão web 2.0: o artista vai não só aonde o povo está, mas aonde o público quer que ele esteja.
Você é um dos músicos que disponibiliza suas músicas para download, isso te prejudica do ponto de vista financeiro e artístico ou ao contrário?
Quando comecei a dar minhas músicas na rede vários parceiros e companheiros de geração me recriminaram dizendo que eu não podia concordar com essa “pirataria digital”. Hoje em dia muitos já se renderam ao poder de divulgação e multiplicação de público da internet. Não se encontrou uma forma de remuneração para os criadores na rede, mas há inúmeros benefícios com a democratização da distribuição. Antes da internet as gravadoras controlavam a produção e a distribuição de música. Se você não tivesse um contrato com uma major estaria fora do jogo. Hoje em dia não há mais filtros, todo mundo pode jogar, o problema é chamar a atenção das pessoas nesse caos de informação. A interação com o público, músicas de qualidade e um show poderoso são as melhores formas de divulgação. Desenvolvi bastante esse tema em meu livro, Manual de Sobrevivência no Mundo Digital.
Do ponto de vista artístico a liberdade é infinita. Nenhuma preocupação em agradar diretor de gravadora ou programador de rádio. O trabalho deve visar a qualidade para conquistar o respeito e a credibilidade do público. É o mudança da cultura do “hype” pela cultura do talento.
Como você vê a rede e suas possibilidades do ponto de vista do acesso à cultura?
É um novo mundo onde não só o acesso à informação não tem barreiras, como o acesso à produção. O próprio conceito de autoria deve ser inteiramente modificado em breve. Não há mais uma separação clara entre emissores e receptores. A cultura está deixando de ser um “comunicado” artístico para se transformar em diálogo multilateral, uma construção colaborativa. Ainda nem consigo imaginar aonde isso tudo vai desembocar. Mas será, como já está sendo, bastante rico.
Qual a sua opinião em relação a atual gestão do MinC?
O MinC do governo Dilma está sendo uma decepção. Em relação à reforma da Lei do Direito Autoral, a lentidão e o conservadorismo – que o enfraquecimento do DDI já sugeria – apontam para um alinhamento com o ECAD e o status quo. Inúmeros retrocessos em relação à Cultura Digital e aos Pontões também demonstram que o conceito de cultura do atual Ministério não incorpora as mudanças ocorridas no mundo pós-internet. E não vejo uma agenda propositiva vindo de lá.
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